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Inclusão do Capítulo 6 ao 9
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Muitas mudanças devidas a emissões passadas e futuras de gases de efeito estufa são irreversíveis durante séculos para milénios, especialmente mudanças na circulação oceânica, nas camadas de gelo e no nível global do mar.
 
Muitas mudanças devidas a emissões passadas e futuras de gases de efeito estufa são irreversíveis durante séculos para milénios, especialmente mudanças na circulação oceânica, nas camadas de gelo e no nível global do mar.
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=== '''6. Cenários e percursos''' ===
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''Quais são os diferentes cenários de aumento de temperatura e os caminhos de mitigação climática para o futuro, os desafios e incertezas a frente?''
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==== A. Modelos climáticos e mudanças projetadas nas emissões de gases de efeito estufa e na temperatura atmosférica ====
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"Modelos climáticos" são sofisticadas simulações computadorizadas usadas para analisar o impacto futuro das mudanças nas emissões de gases de efeito estufa sobre o clima da Terra. Eles também podem ser utilizados para investigar como as políticas e tecnologias podem ser usadas para mitigar as mudanças climáticas. A '''mitigação das''' mudanças climáticas refere-se aos esforços para reduzir, ou prevenir, a emissão de gases de efeito estufa.
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O último relatório do IPCC<sup><sup>[1]</sup></sup> forneceu cinco cenários possíveis para as alterações climáticas com base em modelos científicos. Estes esboçam o nível de aquecimento que pode ser esperado em cenários de emissões "muito baixas" a "muito altas", dependendo do nível de <sub>CO2</sub> e outros gases de efeito estufa emitidos nas próximas décadas.
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Os cenários também variam dependendo das mudanças na população, uso da terra, políticas de comércio e investimento, nossas dietas pessoais, e os esforços agora tomados para controlar as emissões.
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●    Em um cenário de emissões "'''muito altas"''', onde o mundo continua em um caminho de carbono intensivo, veríamos as emissões <sub>de CO2</sub> triplicando aproximadamente os níveis atuais até 2100 e o aquecimento entre 3,3-5,7°C até o final do século.
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●    Num cenário de emissões "'''elevadas"''', onde são tomadas poucas medidas para reduzir as emissões <sub>de CO2</sub>, veríamos as emissões de <sub>CO2 a</sub> duplicar em relação aos níveis atuais até 2100 e um aquecimento de 2,8-4,6°C até ao final do século.
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●    Em um cenário "'''intermediário"''' de emissões, onde as emissões de <sub>CO2</sub> permanecem em torno dos níveis atuais até meados do século e depois diminuem lentamente, veríamos um aquecimento de 2,1-3,5°C até 2100.
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●    Num cenário de "'''baixas"''' emissões, em que o mundo começa a agir nos anos 2020 para limitar as emissões de <sub>CO2</sub>, as emissões de <sub>CO2</sub> atingiriam o zero líquido em 2075 e um aquecimento entre 1,3-2,4°C até 2100.
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●    Em um cenário de emissões "'''muito baixas'''", as emissões de <sub>CO2</sub> diminuem rapidamente a partir do início da década de 2020 e chegam a zero por volta do ano 2050, veríamos um aquecimento de 1,0-1,8°C até o final do século.
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==== B.   Desafios e compromissos ====
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Em todos os cenários delineados pelo IPCC, é provável que 1,5°C de aquecimento seja atingido até 2040, o que representa um risco maior para os sistemas naturais e humanos em comparação com a época atual. No entanto, mesmo mantendo-se dentro de uma meta de 2°C ainda depende muito do nível de emissões produzidas na próxima década e 2°C de aquecimento só é evitado nos cenários de baixas emissões.
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Sem políticas, tecnologia e mudanças de comportamento de longo alcance, o mundo está a caminho de 3°C de aquecimento ou mais. Um mundo a 3°C é muito diferente do atual: com extremos de temperatura vêm riscos mais pronunciados de ondas de calor e secas, tempestades violentas, chuvas e inundações, que terão consequências graves para os ecossistemas e sociedades de todo o mundo.
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Decidir como enfrentar a crise climática e ecológica é fundamentalmente procurar compreender os desafios e trade-offs inerentes a qualquer cenário.
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A fim de melhor compreender estes desafios e trade-offs, exploramos aqui a meta acordada internacionalmente no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
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Para limitar o aquecimento global a 1,5°C, as atuais emissões globais de dióxido de carbono precisam ser reduzidas pela metade até 2030, atingindo emissões líquidas zero de <sub>CO2 em</sub> todo o mundo por volta do ano 2050, bem como alcançar grandes reduções em outras emissões de gases de efeito estufa, tais como metano e óxido nitroso. Ter em conta a '''equidade''' significa que os países mais ricos devem reduzir as suas emissões muito mais do que os países mais pobres. 
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Uma preocupação é que grandes reduções no uso de energia poderiam reduzir o padrão de vida em países industrializados e ricos, bem como limitar nossa capacidade de melhorar o padrão de vida em países pobres. A melhoria do padrão de vida nos países pobres exigirá, em alguns casos, aumentos no uso de energia e investimento em tecnologia eficiente e serviços públicos<sup><sup>[2]</sup></sup>.
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Estimativas recentes mostram que padrões de vida decentes para todos podem ser alcançados enquanto se reduz a demanda global de energia<sup><sup>[3]</sup></sup>, desde que o consumo excessivo seja drasticamente reduzido. Algumas das formas pelas quais isto pode ser encaminhado incluem a necessidade de :
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# Aumentar a produção de energia limpa a partir de tecnologias de baixo e nenhum carbono, como eólica e solar, e, paralelamente, diminuir e eliminar o investimento e a produção de energia de combustíveis fósseis. 
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# Investir em tecnologias e infra-estruturas eficientes (edifícios isolados, transportes públicos)
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# Assegurar acesso suficiente a serviços energéticos acessíveis (ou seja, todas as coisas que as pessoas precisam para usar energia, como cozinhar, aquecimento,    refrigeração, transporte e comunicações) para todos, reduzindo ao mesmo tempo o consumo excessivo dos mais ricos.
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# Mudar para dietas mais saudáveis com mais legumes e frutas regionais e sazonais (para reduzir as emissões da agricultura).
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# Remover carbono da atmosfera através da conservação e restauração dos ecossistemas<sup><sup>[4]</sup></sup>.   
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Um estudo concluiu que para ter 50% de hipóteses de atingir a meta do Acordo de Paris, 90% das reservas mundiais de carvão restantes devem permanecer no solo<sup><sup>[5]</sup></sup>, e não podem ser feitos novos investimentos na extração de combustíveis fósseis<sup><sup>[6]</sup></sup>.
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A falta de cooperação global, assim como a persistência e o crescimento de estilos de vida com alto teor de carbono são obstáculos para alcançar a estabilidade do aumento de temperatura limitada a 1,5°C. Se todas as promessas atuais sob os CNDs do Acordo de Paris fossem cumpridas, ainda não seria suficiente limitar o aquecimento a 1,5°C<sup><sup>[7]</sup></sup>e, em vez disso, levaria ao aquecimento em torno de 3°C - muito além dos objetivos do Acordo de Paris, ou qualquer coisa considerada segura para a humanidade.
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==== C. Pressupostos sobre emissões negativas   ====
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Os cenários de emissões baixas e muito baixas acima dependem de algum nível de remoção de gases de efeito estufa, através da tecnologia de '''"emissões negativas"''' na segunda metade do século.
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Muitos cientistas estão preocupados que a promessa de futuras tecnologias não comprovadas, como a remoção do <sub>CO2</sub> da atmosfera, irá atrasar as ações que precisam ser tomadas hoje para enfrentar as mudanças climáticas. No passado, indústrias poderosas usaram a promessa de tecnologias futuras para justificar o uso contínuo de combustíveis fósseis<sup><sup>[8]</sup></sup>. Tecnologias como a "captura de carbono" ainda não existem a um nível que seja escalável, e por isso há questões importantes sobre se as tecnologias podem ser confiáveis.
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==== D.  Pontos Críticos - Podemos prever o que vai acontecer a seguir? ====
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Nem mesmo a melhor ciência pode prever o futuro com absoluta certeza. Viver com as mudanças climáticas significa viver com incerteza. Nesta seção, nós olhamos para loops de feedback e "pontos de ruptura" como exemplos de incerteza em torno do futuro do nosso clima.
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Imagine um copo de água a ser derrubado. Dependendo da quantidade de água no copo, haverá um ponto em que o copo será tombado de tal forma que a água sairá do copo. Uma vez que a água tenha deixado o copo, é impossível colocá-lo de volta.
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Os pontos de ruptura climática são um "ponto de não retorno", quando os efeitos combinados das mudanças climáticas resultam em danos irreversíveis que "em cascata" em todo o mundo, como os dominós. Uma vez atingido um ponto de viragem, uma série de eventos é desencadeada, levando à criação de um planeta inóspito para muitas pessoas e outras formas de vida<sup><sup>[9]</sup></sup>.
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O IPCC introduziu a ideia de pontos de ruptura há duas décadas. Um possível ponto de viragem é o derretimento do gelo terrestre nas regiões polares (Groenlândia e Antártida), levando a muitos metros de subida do nível do mar ao longo do tempo. Os modelos sugerem que a '''camada de gelo da Gronelândia''' pode eventualmente desaparecer a 1,5 °C de aquecimento<sup><sup>[10]</sup></sup>, embora só depois de muitos anos. Em julho de 2021, uma onda de calor fez com que a Groenlândia perdesse gelo suficiente para cobrir o estado americano da Flórida em 2 polegadas (5cm) de água em um dia<sup><sup>[11][12]</sup></sup>. O gelo marinho já está encolhendo rapidamente no Ártico, indicando que, a 2°C de aquecimento, a região tem uma chance de 10-35 por cento de se tornar em grande parte livre de gelo no verão<sup><sup>[13]</sup></sup>.
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Outro possível ponto de inflexão é a destruição e degradação em larga escala de florestas tropicais como a Amazônia, que é o lar de uma em cada 10 espécies terrestres conhecidas. Estimativas de onde um ponto de inflexão na Amazônia pode estar entre 40 por cento de desmatamento e apenas 20 por cento de perda de cobertura florestal. Cerca de 17% tem sido perdido desde 1970<sup><sup>[14]</sup></sup>, com grandes áreas sendo perdidas devido ao desmatamento humano a cada minuto.
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Aproximando-se de pontos de ruptura como o derretimento das camadas de gelo, desmatamento, degelo do permafrost e mudanças na circulação oceânica (ou uma combinação destes) cria um ciclo que os cientistas chamam de "ciclo de feedback", onde as mudanças climáticas causam uma cascata de efeitos que resultam em ainda mais mudanças climáticas.
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Um exemplo disso pode ser encontrado no Ártico. O gás metano de efeito estufa está atualmente "armazenado" no permafrost Ártico. Como o aquecimento global causa o degelo do permafrost, o metano armazenado é liberado na atmosfera, adicionando ainda mais emissões de gases de efeito estufa que podem levar a um maior aquecimento global. Mais aquecimento resulta em mais derretimento do permafrost, adicionando ainda mais metano à atmosfera para criar ainda mais aquecimento e mais derretimento do permafrost, em um círculo vicioso que pode ser impossível de ser parado.
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Estes loops de feedback são "não lineares", ou seja, podem acelerar de forma súbita e inesperada e podem surgir de uma forma que a ciência não tem sido capaz de prever. Devido a essas incertezas, é possível que já estejamos em risco de desencadear pontos de ruptura que levam a mudanças irreversíveis que culminam em um planeta em grande parte inabitável. <sup><sup>[15]</sup></sup>
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Os próximos 10 anos serão críticos para a adaptação às alterações climáticas e para a sua mitigação. Estar bem informado sobre os riscos e causas das mudanças climáticas nos ajuda a tomar as melhores decisões no presente, apesar do fato de que nunca será possível prever o futuro com certeza. A mudança climática está a acontecer muito mais rapidamente do que os esforços para a enfrentar, e o passado não é um indicador fiável do futuro<sup><sup>[16]</sup></sup>. O futuro é incerto. Este entendimento cria desconforto (uma sensação de que as coisas estão fora de controle), mas também oportunidade. Ainda há tempo para evitar a crise, se forem tomadas medidas agora.
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=== '''7. Que medidas já estão sendo tomadas''' ===
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''Já se passaram seis anos desde o Acordo de Paris. Que medidas foram tomadas pelos países até agora para reduzir as emissões e a perda de biodiversidade, e o que mais precisa ser feito?''
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==== A. Transição energética  ====
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Uma das ações mais importantes da próxima década será a mudança da geração de eletricidade para fontes renováveis e para longe dos combustíveis fósseis. Embora o crescimento das energias renováveis seja importante para permitir que o mundo se afaste dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo a crescente disponibilidade de energias renováveis poderia simplesmente levar a um crescimento global no uso total de energia<sup><sup>[17]</sup></sup>.
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O acesso universal a energia limpa e acessível requer uma transformação tanto da produção como da utilização de energia. Reduzir o uso de carvão em 70% até 2030 significa um aumento de cinco vezes a energia eólica e solar, bem como a eliminação progressiva e o encerramento de 2.400 centrais eléctricas alimentadas a carvão em todo o mundo na próxima década<sup><sup>[18]</sup></sup>. As medidas tomadas para substituir a energia fóssil-combustível por energia renovável custarão dinheiro, mas será mais barato mitigar a mudança climática do que ser forçado a se adaptar à mudança climática.
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Além disso, a transição para uma economia de baixo carbono traz muitos benefícios econômicos e de saúde, como a redução da poluição atmosférica urbana causada, em grande parte, por veículos movidos a gasolina e diesel<sup><sup>[19][20]</sup></sup>.<sup><sup>[21]</sup></sup>
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A energia solar e eólica são agora mais baratas do que as centrais a carvão ou a gás na maioria dos países, e os projetos solares oferecem alguma da eletricidade de mais baixo custo alguma vez vista<sup><sup>[22]</sup></sup>.
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A reforma antecipada ou o reequipamento das infra-estruturas energéticas é necessário para cumprir os compromissos de Paris. Muitos estudos mostram que simplesmente permitir que as instalações existentes de combustíveis fósseis funcionem até ao fim da sua vida útil esperada não manteria as emissões abaixo de 1,5°C e 2°C<sup><sup>[23]</sup></sup>.
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Aumentar a oferta de energia limpa é importante para alcançar o crescimento econômico sustentável e, ao mesmo tempo, limitar o aquecimento global. A energia limpa tem potencial para reduzir a pobreza e a poluição do ar interior e exterior e fornecer serviços críticos, tais como comunicações, iluminação e bombeamento de água<sup><sup>[24]</sup></sup>.
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Melhorar e aumentar a eficiência energética poderia reduzir as emissões <sub>de CO2</sub> em 40 por cento até 2040. Isso exigiria ganhos de eficiência nos transportes (por exemplo, carros elétricos), nas residências (casas e eletrodomésticos mais eficientes) e na indústria. As famílias em todo o mundo também poderiam economizar mais de US$ 500 bilhões por ano em contas de energia, aumentando sua eficiência energética (eletricidade, gás natural para aquecimento, cozinha e combustível para transporte)<sup><sup>[25]</sup></sup>.
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==== B. Conservação e restauração ====
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As questões das alterações climáticas, perda de biodiversidade, degradação da terra e poluição do ar e da água estão interligadas. Um dos principais desafios das próximas décadas será reconhecer a natureza interligada dessas questões e garantir que as ações para abordar uma não tenham consequências involuntárias sobre a outra. Por exemplo, a substituição da vegetação nativa por monoculturas para o fornecimento de bioenergia<sup><sup>[26]</sup></sup>, ou a destruição de ecossistemas para construir infra-estruturas de energia renovável.
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O reflorestamento em grande escala com vegetação nativa aborda simultaneamente as questões da perda de biodiversidade, degradação do solo e poluição do ar e da água.
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A restauração de ecossistemas aumenta a capacidade das florestas, do oceano e do solo para absorver dióxido de carbono. Hoje, a natureza só consegue absorver cerca de metade das emissões de <sub>CO2</sub>, mais ou menos igualmente divididas entre os ecossistemas terrestres e os oceanos, ficando o restante na atmosfera e provocando o aquecimento da Terra. <sup><sup>[27]</sup></sup>
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As florestas absorvem atualmente menos de um quarto das emissões de carbono dos combustíveis fósseis e da indústria<sup><sup>[28]</sup></sup>, com potencial para armazenar muito mais.
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A agricultura é um grande motor da perda de biodiversidade e das emissões de gases com efeito de estufa. Mudar os sistemas de produção alimentar para que utilizem métodos agrícolas que funcionem com a natureza é fundamental para restaurar os ecossistemas naturais e construir as capacidades do solo para sequestrar o carbono. Os métodos agrícolas sustentáveis têm potencial para ajudar a eliminar a fome e a desnutrição e contribuir para a saúde humana. A agricultura sustentável conserva e restaura solos e ecossistemas, melhorando a biodiversidade local, ao invés de degradá-la<sup><sup>[29]</sup></sup>.
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Os pequenos agricultores, particularmente as mulheres agricultoras, são centrais para o desafio de alcançar a segurança alimentar sustentável e precisam de ser capacitados através do acesso ao financiamento, educação, formação e informação e tecnologia<sup><sup>[30]</sup></sup>.
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==== C. Consciência global ====
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Desde o ''Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5ºC'' do IPCC em 2018 e a ''Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) de Avaliação Global'' em 2019, a consciência global sobre o clima e a crise ecológica aumentou consideravelmente.
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Em 2021, a ONU publicou os resultados do Voto dos Povos sobre o Clima. Com 1,2 milhões de pessoas de todo o mundo fornecendo suas opiniões, esta é a maior pesquisa da opinião pública sobre mudanças climáticas já realizada, dando uma visão das opiniões públicas sobre soluções climáticas como energia renovável e conservação da natureza. Em muitos dos países participantes, esta foi a primeira vez que houve uma tentativa tão grande de obter a opinião pública sobre o tema da mudança climática.
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O Peoples' Climate Vote constatou que quase dois terços (64%) das pessoas em 50 países acreditam que a mudança climática é uma emergência global. Esta é uma informação importante para os governos na preparação da COP 26 de Glasgow, pois mostra que a maioria das pessoas acredita que é vital agir agora sobre a mudança climática.
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A pesquisa também encontrou um alto nível de apoio em todo o mundo para a conservação de florestas e terras, a implementação de energias renováveis, técnicas agrícolas amigas do clima e investimento em negócios verdes.
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Em países com alto nível de desmatamento - Brasil, Indonésia e Argentina - houve um apoio majoritário para a conservação de florestas e terras. Na Índia, a conservação das florestas e da terra foi a terceira política climática mais popular naquele país, após o uso crescente de energias renováveis e o uso de técnicas agrícolas amigáveis ao clima.
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Em países onde existem elevadas emissões de carbono provenientes do aquecimento e da utilização de eletricidade - EUA, Austrália, Alemanha, África do Sul, Japão, Polônia e Rússia - houve um apoio maioritário às energias renováveis.  
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Os resultados da pesquisa são significativos, pois mostram um amplo apoio à ação climática em todo o mundo e entre diferentes grupos etários, níveis de educação, nacionalidades e gêneros<sup><sup>[31]</sup></sup>.
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Além de pressionar os governos a agir sobre as mudanças climáticas e exercer seus direitos de voto e cívicos, os indivíduos podem facilitar uma mudança global em direção a um futuro de baixo carbono através de ações pessoais e cívicas. Quando se trata do papel dos cidadãos na redução das emissões de carbono, as pessoas em alguns países podem ter um impacto maior do que outros, com base nas suas emissões de <sub>CO2</sub> por pessoa e na sua influência mais ampla na sociedade. Os indivíduos em países com emissões elevadas podem facilitar uma mudança global para um futuro de baixo carbono através da mudança das suas dietas (por exemplo, comendo menos ou não carne) e hábitos de viagem (por exemplo, voando ou conduzindo menos), evitando o desperdício de alimentos e recursos, e reduzindo o seu consumo de água e energia. Essas ações também podem ajudar a proteger e conservar a biodiversidade. As pessoas também podem promover mudanças através da conscientização em suas comunidades e do envolvimento em ações comunitárias e políticas, usando os meios mais apropriados disponíveis para a sociedade em que vivem<sup><sup>[32]</sup></sup>.
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=== '''8. Distribuição e equidade''' ===
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Alguns países e regiões do mundo começaram a emitir uma quantidade significativa de <sub>CO2</sub> há séculos; outros só começaram relativamente recentemente. Uma das razões pelas quais as emissões anuais globais estão agora aumentando é devido ao rápido crescimento das economias emergentes, especialmente na Ásia, no Oriente Médio e na América Central e do Sul. Quase todo o crescimento das emissões deste século virá dos países em desenvolvimento.
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Embora a maior parte do recente aumento das emissões de carbono possa ser atribuída aos países em desenvolvimento, é importante reconhecer que países ricos, como os EUA e os Estados-membros da UE, terceirizaram muitas das partes mais intensivas em carbono e ambientalmente tóxicas da sua cadeia de produção para países como a China e a Índia - enquanto o mundo rico continua a consumir bens com alto teor de carbono, passou a depender de outras partes do mundo para fabricá-los. Por exemplo, uma grande percentagem dos bens eletrônicos que são utilizados em todo o mundo são fabricados na China. Isso tem o efeito de deslocar as emissões para esses países, em vez de reduzi-las<sup><sup>[33]</sup></sup>.
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A diferença de impacto entre os mais responsáveis pela mudança climática e os mais vulneráveis aos seus impactos é muito marcante. Por exemplo, o 1% mais rico da população mundial (aproximadamente 75 milhões de pessoas) é responsável pelo ''dobro'' das emissões da metade mais pobre da população mundial (aproximadamente 3.750 milhões de pessoas)<sup><sup>[34]</sup></sup>. 
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As nações industrializadas e regiões do mundo que se enriqueceram com a queima de combustíveis fósseis e a exploração colonial têm agora os melhores recursos para liderar. À luz das diferentes circunstâncias nacionais, o Acordo de Paris exige que se alcancem "reduções rápidas" das emissões "com base na equidade e no contexto do desenvolvimento sustentável e dos esforços para erradicar a pobreza"<sup><sup>[35]</sup></sup>.
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Hoje há um reconhecimento crescente da necessidade de adaptação e ajuste às realidades das mudanças climáticas. A adaptação é especificamente discutida no Acordo de Paris. O aspecto da adaptação às mudanças climáticas será diferente para diferentes comunidades em diferentes partes do mundo. Os desafios da adaptação às mudanças climáticas serão maiores para a maioria dos países em desenvolvimento, dado que muitos dos impactos são maiores nesses países e muitos carecem do financiamento, infraestrutura e capacidade técnica necessários para se adaptar.
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Isto acabará por ter implicações na igualdade de oportunidades para o desenvolvimento, tal como previsto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU<sup><sup>[36]</sup></sup>e na Declaração da ONU sobre o Direito ao Desenvolvimento. 
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Quanto mais quente o mundo se torna, maior é o impacto de cada setor. Quanto maior for a degradação dos ecossistemas, maior será a dificuldade de adaptação. As comunidades pobres e marginalizadas - incluindo as dos países ricos - carecem das capacidades básicas necessárias para se adaptarem aos atuais níveis de aquecimento<sup><sup>[37]</sup></sup>.
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Em muitos casos, a adaptação não será de todo possível, por exemplo, em alguns lugares a agricultura não será mais possível devido às altas temperaturas e à falta de recursos hídricos. Os países em desenvolvimento são, em geral, mais vulneráveis devido aos impactos serem maiores, juntamente com a falta de infra-estrutura financeira e tecnológica<sup><sup>[38]</sup></sup>. Além disso, a marginalização destas comunidades tem sido tipicamente ligada aos próprios processos que causam as mudanças climáticas, incluindo o colonialismo, a exploração de recursos (muitas vezes degradando os recursos ecológicos que apoiam os meios de subsistência locais) e a acumulação de capital movido por combustíveis fósseis<sup><sup>[39]</sup></sup>.
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Os países mais ricos terão mais recursos do que os países pobres para se adaptarem às exigências de um clima em mudança, o que significa que há necessidade de ajuda financeira e assistência tecnológica aos países mais pobres. Quanto maior for o grau de aquecimento, maiores serão os impactos sobre as sociedades, economias, saúde humana e ecossistemas, daí o maior desafio da adaptação.
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Dos 192 países que se comprometeram com o Acordo de Paris, 127 são parcial ou totalmente condicionais. Isto significa que, sem financiamento ou apoio técnico internacional, estes compromissos não poderão ser implementados. Estas promessas condicionais foram, na sua maioria, apresentadas por países que não têm capacidade financeira para reduzir as emissões, bem como capacidade tecnológica e institucional<sup><sup>[40]</sup></sup>.
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Muitos destes compromissos podem não ser implementados porque, até agora, pouco apoio internacional se tem materializado<sup><sup>[41]</sup></sup>.
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A questão das alterações climáticas também levanta questões de responsabilidade geracional. As gerações mais velhas foram as que mais beneficiaram do desenvolvimento econômico em resultado da queima de combustíveis fósseis, enquanto as gerações mais novas irão - e estão - a sofrer as consequências.
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=== '''9. COP26 e mais além''' ===
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A crise climática e ecológica já está entre nós e se agrava à medida que as emissões de gases de efeito estufa continuam a crescer e os seres humanos continuam a destruir a biodiversidade. Os danos das mudanças climáticas são piores que o esperado há uma década, e já estão sendo sentidos em todo o mundo. Para manter ao nosso alcance o objectivo de limitar o aquecimento a um máximo de 1,5°C, são necessárias reduções significativas das emissões na década de 2020, bem como nas décadas seguintes.
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Os últimos cinco anos têm tido alguns sucessos. A energia solar e eólica revelaram-se muito mais baratas e fáceis de implementar do que o previsto, os veículos elétricos estão a tornar-se mais comuns, disponíveis e as tecnologias de baixo carbono são competitivas num número crescente de mercados. Entretanto, há um reconhecimento crescente de que as emissões precisam ser reduzidas nos setores mais difíceis de descarbonizar, como o da aviação. . Um relatório de 2018 sobre a indústria da aviação, por exemplo, constatou que os planos atuais de atualização de tecnologias e melhoria das operações não irão mitigar a demanda de combustível e as emissões esperadas<sup><sup>[42]</sup></sup>. Os roteiros estão surgindo para assumir as emissões da indústria pesada.
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As mudanças nos padrões de consumo e estilos de vida dominantes são também uma parte crítica e integrante das soluções para enfrentar as alterações climáticas<sup><sup>[43]</sup></sup>. Os estilos de vida dos indivíduos consistem em vários elementos da vida diária, incluindo o consumo relacionado com a nutrição, habitação, mobilidade, bens de consumo, lazer e serviços.
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Agora que as metas do Acordo de Paris foram estabelecidas, espera-se que a COP26 de Glasgow seja sobre a criação de um roteiro mais detalhado de como alcançá-las. Algumas questões importantes para a conferência incluirá como fazer a transição dos combustíveis fósseis e como converter as promessas líquidas em ações. Para desenvolver as próximas etapas será necessária liderança em todos os níveis, de indivíduos a empresas e investidores, ao governo<sup><sup>[44]</sup></sup>, à Assembleia Global.
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